Em uma época em que a força da mídia impressa vem sendo questionada dia a dia com previsões apocalípticas, o recente episódio do "escândalo dos banheiros", em terras cearenses, traz em seu bojo uma série de ensinamentos para a sociedade em geral e, em especial, para aqueles que se dedicam à complexa tarefa de informar. Enquanto muitos críticos alardeiam aos quatro ventos a ideia de que a atuação da imprensa será cada vez mais dispensável na sociedade pós-moderna, tal caso nos faz refletir e perceber, partindo de um acontecimento a nível local, uma realidade que se descortina a nível global e que só quem não vê são aqueles que costumam torcer o nariz para um imprensa livre e atuante, ou aqueles que acham que as redes sociais irão substituir os jornais.
O "escândalo dos banheiros" (que não poderia ter nome mais apropriado) trouxe à tona nas últimas semanas uma série de denúncias que sugerem a deplorável promiscuidade entre o Tribunal de Contas do Estado do Ceará (TCE-CE), o Governo Estadual, algumas prefeituras e entidades. Mais que isso, sugerem corrupção e utilização da máquina pública em benefício de interesses escusos como o financiamento de campanha política. Até aqui, o símbolo do escândalo foi o afastamento do então presidente do TCE, Teodorico Menezes, suspeito de ser o principal arquiteto do esquema. No entanto, novos fatos continuam a aparecer diariamente nos últimos dias e uma intrincada rede de corrupção vem sendo desbaratada.
Quem primeiro trouxe o caso às luzes (e, infelizmente, permaneceu sozinho na apuração por vários dias) foi o jornal O Povo. Partindo da sugestão de um leitor (aqui vai uma das grandes lições do caso), o jornal acreditou e investiu na matéria, visitando cidades, ouvindo histórias, cruzando dados e comparando versões. Dificuldades a parte, há de ser reconhecido o empenho e a sensibilidade jornalística direcionada ao caso, produzindo uma série de manchetes em sequência, mostrando que aquele não era mais um caso qualquer de corrupção (como, infelizmente, já se tornou banal nas páginas de política), mas sim algo sem precedentes na história recente de nosso Estado. Percebamos o tripé sob o qual se sustentaram as matérias: participação do leitor (sem o qual provavelmente o problema não teria sido percebido), pesquisa aprofundada de dados (aproveitando o que é disponibilizado hoje, ainda que com problemas, nos portais de transparência dos governos) e sensibilidade jornalística (para medir a real dimensão dos acontecimentos, comparar versões, manter uma investigação ética e não se deixar levar pela pressa e pelo sensacionalismo).
A jornalista Cidinha Campos certa vez já definiu assim a atividade jornalística: "Jornalismo é publicar alguma coisa que alguém não quer. O resto é publicidade". Reducionismo a parte, esta é uma máxima que deveria ser um pouco mais pensada nas editorias de política das redações. Vigiar, fiscalizar e incomodar aqueles que se acham espertos o suficiente para usurpar o que é público devem ser princípios do jornalismo por excelência. E por mais que haja uma enxurrada de canais de informação, sobretudo na internet, é ainda a mídia impressa que chega um pouco mais próximo desses ideais. Prova disso são as denúncias de jornais e revistas, que só esse ano já provocaram grandes alterações nos quadros do governo Dilma Rousseff. Não desejo aqui fazer um panegírico à mídia impressa, tampouco à grande mídia e nem negar o importante papel das novas mídias e tendências quanto a seus potenciais. Não é a questão da tinta no papel e sim a forma de se fazer. Por isso, antes que os apocalípticos anunciem a morte da mídia impressa, sugiro-os que apresentem uma melhor.
# Currículo: Marcos Robério: estudante de Jornalismo. Foi coordenador do Núcleo de Jornalismo da ONG TV JANELA; depois trabalhou na assessoria de imprensa da Prefeitura de Fortaleza (estagiário da Secretaria Executiva Regional VI). Atualmente, é repórter estagiário do Jornal O POVO, onde escreve no caderno Vida e Arte. Contatos: email - marcosroberio88@gmail.com e twitter - @marcos_roberio Marcos Robério escreve nesse espaço toda quinta-feira.