Na semana passada, tive a oportunidade de subir o Morro Santa Terezinha, área do Grande Mucuripe, para realizar uma matéria a ser avaliada em uma disciplina da faculdade. Foram pouco mais de três horas que passamos percorrendo o morro, buscando entender o dia a dia daquele lugar muito falado e pouco conhecido. Famigerado por sua suposta violência, o bairro logo nos surpreendeu por sua aparente tranqüilidade. Percebemos aos poucos que ali não era exatamente como nos foi descrito em algumas informações preliminares que coletamos antes de sair a campo.
Sim, o lugar é uma periferia, mas como outra qualquer, com os mesmos problemas e as mesmas necessidades de quase todos os bairros da delicada metrópole fortalezense. E a receptividade e acolhimento dos moradores foram além do que eu e meu colega esperávamos. Com a maior parte das pessoas com quem conversamos, fomos tratados com uma hospitalidade quase interiorana. Dessa forma, histórias e mais histórias iam aparecendo e reconstruindo em nossa cabeça a imagem daquele povo, o nosso povo.
Histórias como a de dona Terezinha, 78, uma das primeiras moradoras da comunidade. A história do morro se confunde com a própria história dela. Com a voz arrastada e o olhar sereno, Dona Terezinha, junto com a filha, nos deu o privilégio de, por mais de uma hora, nos deliciarmos com seus causos, suas lembranças. Seu relato recaiu sobretudo na antiga Praça do Mirante. Entre as décadas de 1980 e 1990, o Mirante foi um dos principais redutos da boemia fortalezense, além de receber turistas que chegavam à cidade. Agora, o que se vê é o retrato do abandono. Nem de longe o lugar tem mais o charme e o glamour que fizeram sua fama. Só o que não mudou foi a vista impressionante, que ainda fascina, ao mostrar uma Fortaleza olhada de cima, percebendo-se toda a sua vastidão. A criminalidade e a ocupação desordenada são apontadas pela maior parte dos moradores como a causa da decadência.
Já o coordenador de uma ONG no local mostrou um ponto de vista menos simplista e mais contextualizado, mostrando que as origens de tal declínio estão em um conjunto de fatores, inclusive, na própria mídia que, segundo ele, teria reforçado a imagem negativa do Mirante.
Descrevo esse dia não apenas para compartilhar a experiência mas também para mostrar como a rua é sempre o melhor lugar para o jornalismo estar. Isso vem sendo cada vez mais reduzido devido à lógica que atualmente impera nas redações, sobretudo nos jornais impressos. Mas essa é uma discussão um pouco vasta, sobre a qual tratarei melhor na próxima oportunidade. Mas o recado, por enquanto, é simples e direto: Saiamos a rua, caros jornalistas!
# Currículo: Marcos Robério: estudante de Jornalismo. Foi coordenador do Núcleo de Jornalismo da ONG TV JANELA; depois trabalhou na assessoria de imprensa da Prefeitura de Fortaleza (estagiário da Secretaria Executiva Regional VI). Atualmente, é repórter estagiário do Jornal O POVO, onde escreve no caderno Vida e Arte. Contatos: email - marcosroberio88@gmail.com e twitter - @marcos_roberio