Não é de hoje que se fala nos "novos tempos" do jornalismo. Há pelo menos 15 anos, quando a Internet passou a se espalhar pelo mundo com impressionante velocidade, estudiosos da comunicação tentam lançar luz sobre esse rápido e inexorável processo. Ao mesmo passo que se tornava mais complexa e rica em conteúdo, a Internet trazia junto com a enxurrada de informações e possibilidades uma série de novos desafios para a profissão jornalística. Uma das características que mais representa essa nova realidade (sobretudo no jornalismo impresso) é o sumiço dos repórteres da rua. Ela, a rua, que antes se confundia como parte do próprio ambiente de trabalho do repórter, deixou de ser vista como fonte de pautas e boas histórias para ser vista como algo a ser evitado, indo o repórter até ela somente em casos em que a comunicação à distância não for capaz de suprir as necessidades.
Importante, porém, é dizer que o repórter não é responsável direto por isso. Ele é apenas a ponta de um processo que se deu de forma rápida, não planejada e que pode ser visto sob várias óticas, uma vez que tem sua origem em diversos fatores. É inegável que as novas tecnologias que potencializam o processo de comunicação vieram de encontro às necessidades do jornalismo e facilitaram de forma impressionante o dia a dia do trabalho de colher informações e repassá-las a um grande número de pessoas. Eu mesmo me pego vez por outra pensando em como era feito o jornalismo sem Internet. Confesso que não consigo pensar nessa ideia por muito tempo, face à inquietação um tanto angustiante que ela provoca. Antigamente, o processo natural da atividade jornalística era o profissional ir em busca dos fatos, das fontes e realizar um trabalho que exigia paciência e senso de oportunidade para conseguir as informações desejadas. Ou seja, havia uma escassez de fontes e o jornalista ia garimpar até encontrar sua pepita de ouro, no caso, a informação, que era levada para a redação para ser lapidada e posteriormente colocada no mercado da forma mais conveniente.
Hoje parte desse processo está invertida. O que muitas vezes atrapalha o repórter não é mais a escassez, mas sim o excesso de informações que lhe estão disponíveis, causando uma entropia da qual ele nem sempre consegue sair com eficiência. É como se enganchar na vasta rede de informações inteligadas (e aqui não me refiro apenas à Internet). Por isso, atualmente, o repórter tem de saber antes de tudo realizar um processo de edição. Para cada matéria a ser feita, normalmente existe um volume enorme de material que já abordou aquele assunto. E esse material, que chega facilmente aos olhos do repórter, tem de ser criteriosamente analisado e dimensionado para fazer dele a melhor utilização possível, a fim de chegar a algo de qualidade e valor próprio, sempre em consonância com os princípios basilares da atividade jornalística.
O que está havendo é uma certa exarcebação da penetração da Internet no dia a dia das redações, o que causa certa acomodação dos profissionais. Isso ocorre também devido às restrições impostas pelas empresas jornalísticas que, com a maior utilização da Internet, passaram a ter menos gastos em termos operacionais. É como se hoje em dia um repórter sozinho e sem sair da redação faça o que antigamente dois faziam saindo a campo.
Logicamente não se pode querer frear o processo de intermediação de contatos (processo, aliás, que é fundamental e extremamente enriquecedor para o jornalismo). Mas o mais correto, a meu ver, seria uma melhor dosagem entre as atividades dentro e fora das redações. Lembremos que a maioria da população ainda não existe no ambiente virtual e nem tem essa obrigação. A virtualização dos contatos e do próprio processo de construção de notícias acaba por vezes privando o repórter daquilo no qual ele deveria ser especialista, que é ver o cotidiano e desenvolver as possibilidades que só o olho no olho, a conversa direta e a percepção do ambiente são capazes.
OBS: Ainda sobre esse assunto, indico este artigo de Carlos Castilho - http://carloscastilho.posterous.com/o-jornalismo-preguicoso
# Currículo: Marcos Robério: estudante de Jornalismo. Foi coordenador do Núcleo de Jornalismo da ONG TV JANELA; depois trabalhou na assessoria de imprensa da Prefeitura de Fortaleza (estagiário da Secretaria Executiva Regional VI). Atualmente, é repórter estagiário do Jornal O POVO, onde escreve no caderno Vida e Arte. Contatos: email - marcosroberio88@gmail.com e twitter - @marcos_roberio Marcos Robério escreve nesse espaço toda quinta-feira.