A data é 17 de junho. Há exatos 101 anos o teatro monumental de Fortaleza é inaugurado. A cidade ganha o tão esperado Theatro José de Alencar. Patrimônio histórico e artístico que homenageia em seu nome o fantástico romancista cearense, o Theatro não só tem teatro, tem de tudo. Tem dança, circo, percussão, canto, música e um pouco de todo tipo de representação artística e imaginável que possa haver no mundo fabuloso que é o mundo das artes.
Pena que é pouco aproveitado por grande parte dos moradores desta capital. Em 2008, quando este que vos escreve, estava a pleno vapor no Curso Princípios Básicos de Teatro - CPBT (curso ministrado no TJA desde 1991), a atual diretora da casa, Izabel Gurgel, durante a maravilhosa aula de história do Theatro, contextualizando Fortaleza, falou que apenas 1% da população fortalezense frequenta o espaço. Fiquei pensando depois: "Poxa, só isso? O Theatro é de todos! O Theatro é pra todos!".
Refletindo sobre a situação, percebemos que caímos no cultural e no preconceito ainda existente diante do fazer teatral. "Pra quê vou pro teatro", "prefiro ficar em casa vendo TV", "teatro não dá dinheiro", "o teatro é lugar para homossexuais". "Só é ator quem trabalha na televisão ou no cinema", "você é ator?", nunca te vi em filme e nem na novela!" Mentalidades como estas precisam ser mudadas. Nossa cultura empurra de goela abaixo o que deve ser consumido como "arte" e entretenimento. Na mesa da maioria, o teatro não faz parte do cardápio.
Quem geralmente ocupa o TJA são pessoas da área artística, alunos do CPBT que passam a viver o Theatro como suas segundas casas. Turistas que têm uma presença forte. Eles entram, visitam, fotografam, fazem turismo e depois vão embora. Ah, quase me esquecia, o TJA também é ocupado pela "classe A" que, de vez em quando, dá uns pulinhos aqui quando tem algum "famoso" da TV.
Pergunta-se agora: quem é culpado por esse quadro? A desinformação? A falta de divulgação? A desvalorização? Ele, o TJA, em todos os seus espaços e atividades, deveria ser mais consumido pelos cearenses. "Ah, isso é um teatro. Pensei que fosse uma igreja!" E "moço, para onde vai o trem dessa estação? Frases como estas já foram presenciadas por pessoas na entrada do Theatro. Tomemos nossas próprias conclusões.
Mas mesmo assim, não fico tão descontente, pois na última sexta-feira (17), "o mundo theatral" estava em festa, duas datas especiais: TJA, 101 anos e CPBT completando seus 20. O projeto "Religare - CPBT 20 anos" foi lançado. Alunos e professores se encontraram para comemorar as duas décadas do curso. Projeto foi exposto e vigorará em festa até dezembro. CPBT tarde 2011 se apresentou! Com alegria, o Theatro mais uma vez se apresentou!
Theatro de "Olhe para os lados", última peça de conclusão do CPBT. Theatro de Edinéia Tutti, Juliana Veras, Silvero Pereira e João Andrade Joca. Theatro do adjetivado Ricardo Guilherme e de Trepinha. Theatro de toda a bela equipe que o faz! Theatro de Diego, Caio, Antônia, Gabriel, Maria, Anderson, Cláudio, Marlene, Rafael, Solange, Bruno, Sara, Kiko, José, Renê... e de outros mais fortalezenses. Um grito de guerra e de clamor ao Curso Princípios Básicos de Teatro, ao Theatro José de Alencar e a todos os artistas locais. Com orgulho digo em alto e bom tom: Parabéns aos três! E o que fica de desejo... é somente uma coisa: a valorização desse trio.
# Currículo: Rogério Maia é estudante do 5º semestre do curso de Jornalismo da Faculdade Integrada do Ceará (FIC). Concludente do curso Princípios Básicos de Teatro, do Theatro José de Alencar. Apreciador de música, teatro, dança, circo, artesanato e outras artes em geral. Amante da escrita e da leitura, fascinado em escrever crônicas e contos trágicos com pitadas apimentadas de surpresa e romance. É ainda assessor-estagiário da Secretaria Executiva Regional III, da Prefeitura Municipal de Fortaleza. O seu artigo é publicado sempre nas sextas-feiras.