Infelizmente, não houve como resistir mais: o resfriado me alcançou na corrida que disputamos em pista molhada pela chuva que visita Fortaleza. Apenas os sintomas do resfriado clássico, nada da devastação que atingiu alguns amigos meus... Mas o resfriadinho tocou minhas lembranças. Quando pequena, na gélida terra natal, ouvia sempre dos mais velhos: “Não pise descalça no chão frio, vai se resfriar!” , “Não tome essa água, está gelada!”, “Não se sente nesse banco, o cimento está gelado... faz mal!” Esse “faz mal” podia significar desde uma gripe até doenças gravíssimas, daquelas que nem se falava o nome. Cresci e descobri que o verdadeiro vilão era um ser microscópico, que se aproveitava de uma resistência em baixa para nos derrubar. Foi a redenção do sorvete, da água gelada e do banho de mangueira no quintal. Mas o engraçado é que agora, morando mais perto do Equador, banhada pela luz do Sol que inunda a cidade de claridade e calor, escuto os mesmos conselhos, virados ao avesso: “Não pise descalça no chão quente, vai se resfriar!”, “Não tome essa água, está quente!”, “Não se sente nesse banco, o cimento está quente... faz mal!” E há quem jure que a cultura popular é infalível, que os conhecimentos empíricos sempre se mostram verdadeiros... Sim, depois do advento do microscópio eletrônico muita teoria foi derrubada, mas, aqui ou lá, o carinho de quem nos aconselha com amor é sempre o melhor remédio.
Currículo: Nilza Braga, professora de Inglês do Ensino Médio, formada em Letras pela Fac. de Ribeirão Pires (SP). Adotou Fortaleza como sua há 20 anos e trabalha na rede estadual de ensino. Vegetariana, espírita, apaixonada pela profissão, mantém em precário funcionamento o http://nilzasonapaz.blogspot.com/ mas é figura fácil no Orkut, Twitter, MySpace, Facebook e mais alguns, com o codinome "Nilza só na Paz".