Novas mídias, velhas limitações
Por Marcos Robério (foto)
A quantidade de pessoas com acesso à Internet no Brasil vem aumentando consideravelmente a cada ano e a esperança é de que o alcance seja alavancado com o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), uma das primeiras medidas anunciadas pela presidente Dilma Rousseff, que classificou o plano como uma de suas prioridades, a ser encabeçada pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Ótimo. O que preocupa também, no entanto, é a forma como temos usado a Internet, sobretudo quando nos referimos a fontes de informação, uma vez que os números mostram que estamos reproduzindo na nova mídia a antiga concentração de audiência que se vê nas mídias tradicionais.
No início de fevereiro, durante o evento Social Media Week, em São Paulo, a agência JWT apresentou uma pesquisa realizada pelo Ibope, mostrando que a Internet no Brasil tem 75% de sua audiência concentrada em sete grandes sites, sendo que um é o Google e seis são portais de notícias: UOL, Terra, iG, Globo.com, Microsoft Live e Yahoo!
Não cabe aqui discutir a qualidade ou o mérito de tais portais em conquistar tamanha audiência, simplesmente porque cada usuário é totalmente livre para escolher o gerenciador de conteúdo que mais lhe agrade, tornando-o uma fonte confiável de informação. A questão mais intrigante é imaginarmos como, na imensa seara que é a Internet, com seus milhares e milhares de sites e sua imensidão de conteúdo, o brasileiro esteja ainda enxergando e consumindo informação de forma tão limitada em termos de variedade.
Lógico que há uma série de fatores a serem considerados, tais como a credibilidade que esses canais construíram ao longo dos anos, as estratégias de marketing que adotam, a capacidade de suprir o interesse de diferentes públicos, entre outros. Ainda assim, talvez a explicação mais lógica para tal fenômeno seja uma relação histórica de concentração de veículos da grande mídia nas mãos de grupos seletos, aliando-se a isso (e em conseqüência disso) a passividade com que o brasileiro sempre encarou o processo midiático. Ao levarmos essa visão também para as novas mídias, perdem força os canais alternativos (dos quais os maiores exemplos são os blogs) e também as redes sociais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a Internet, de fato, já é usada como um meio com o real poder de democratizar e lançar novas luzes sobre o processo de produção de notícias e sua conseqüente divulgação, inclusive com blogs e sites de pessoas independentes (não atreladas a nenhuma empresa) que pautam diariamente a grande mídia. Essa forma de interação e produção de conteúdo é uma das essências da Internet e certamente o movimento de desconcentração é uma tendência, embora no Brasil, como mostrado acima, esse processo esteja se dando de forma muito tímida e lenta.
Nos últimos dias, estive presente em um debate sobre a democratização da mídia no Brasil, no qual foram levantados alguns pontos, como a necessidade da criação de um marco regulatório e também a democratização das concessões de rádio e TV. Essa é certamente uma discussão a ser levada adiante, no intuito de começarmos a modernizar e aperfeiçoar as complexas relações midiáticas no país. Mas que não nos iludamos: Platão e sua caverna já demonstravam que ao ficarmos muito tempo na escuridão, nos negamos a enxergar a luz. Os números referentes à Internet mostram isso. Não se muda da noite para o dia a cultura de mídia de um país apenas com discursos eloquentes e futuras canetadas em papel.
Marcos Robério: estudante de Jornalismo. Foi coordenador do Núcleo de Jornalismo da ONG TV JANELA; depois trabalhou na assessoria de imprensa da Prefeitura de Fortaleza (estagiário da Secretaria Executiva Regional VI). Atualmente, é repórter estagiário do Jornal O POVO, onde escreve no caderno Vida e Arte. Contatos: email - marcosroberio88@gmail.com e twitter - @marcos_roberio