domingo, 18 de novembro de 2012

Artigo - "Pensando um pouco normal, pra não dizer diferente"

Artigo escrito e enviado para o Blog, a pedido desse blogueiro, pelo professor Wellington Carneiro (foto), mestrando em Letras, icoense e defensor intransigente dos direitos LGBTT. Acompanhe a leitura abaixo, onde traz um texto leve, educativo e altamente bem escrito por quem realmente entende do assunto. Oriente-se, tire o preconceito de dentro de você e seja mais um defensor dos direitos humanos. Afinal, estamos em pleno século XXI. Excelente leitura!
 
"Dizer o que é normal e o que não é parece-nos corriqueiro demais, mas somente quando nos deparamos com a diversidade que a espécie humana tem em sua constituição, seja social, biológica, cultural, etc. é que percebemos como somos diferentes. Assim falo, porque me deparo constantemente com situações diversas, onde procuro ponderar minhas atitudes e norteá-las dentro do bom senso e do respeito ao próximo. Não que eu seja um exemplo de interação perfeita na sociedade, mas procuro maximizar minhas relações com o próximo a fim de que possa melhorar meu desempenho como pessoa humana.
 
Longe de um viés cristão, mas já imbuídos neste filtro indissociável pela sociedade ocidental moderna, creio que devemos praticar mais a nossa humanidade e amor ao próximo. Digo essas palavrinhas bonitinhas, até demais pra quem me conhece, com o simples objetivo de fazer pensar aqueles que venham, por ventura, ler estas linhas de pura filosofia “cristã”.
 
Praticar o amor ao próximo, eis o grande mandamento cristão e creio que seja o mais difícil de cumpri-lo.
 
Não culpo religiões, nem dogmas, nem mesmo a sociedade. EU CULPO O HOMEM. Culpo o homem que não sabe separar suas escolhas religiosas de fanatismo exterminador de pessoas “não normais”, culpo o homem que une estado laico com religião, culpo o homem que prega uma heteronormatividade que nunca existiu, nem mesmo nas eras mais primitivas da humanidade, imagina na modernidade. Culpo os homens que governam para si e não para o coletivo. Culpo todos aqueles que não pensam nas pessoas “diferentes”. Culpo todos aqueles que descansam suas pseudo-consciências longe da responsabilidade que tem com os menos favorecidos, com os excluídos, com os apedrejados, com os maltratados, que apanham nas ruas, que levam cusparadas, que são xingados, que não podem demonstrar nenhum gesto de afeto pelo seu companheiro ou companheira. E estas pessoas que olham indiferentes para nós descansam simplesmente pelo fato de que se vêem longe desta situação. Vejam um exemplo disso:
 
Moro numa cidade de pouco mais de sessenta mil habitantes e se levarmos em consideração as estatísticas, ao menos 10% desta população é gay, o equivalente a 6.000 (seis mil) pessoas que se enquadram dentro da sigla LBGTT. Dentro deste panorama, éramos para ter no mínimo um grupo organizado para dar suporte aqueles que precisam de orientação, ajuda, seja qual for. Só para constar os fatos, o número de suicidas homossexuais chega a ser desesperador, principalmente entre os adolescentes. Vendo tudo isso, procurei com um grupo de amigos organizar uma reunião para pensarmos no assunto, e por incrível que pareça, a reunião aconteceu, mesmo depois de muitos empecilhos.
 
Inicialmente, aproveitei o fato de nossa cidade estar passando por uma eleição para questionar aos candidatos que concorriam ao pleito sobre políticas para LGBTT e sabe quantos responderam? Nenhum.
 
Pois é, juntos com alguns amigos tocamos a ideia da reunião para frente. O primeiro empecilho veio de alguns funcionários da secretaria de ação social da cidade, ao dizer para o secretário que iríamos fazer politicagem na reunião. Depois percebemos que alguns candidatos a vereadores aproveitaram o foco da reunião para se promoverem. E, para encerramos este elenco de dificuldades, nós tivemos que enfrentar o descaso de quase todas as secretarias do município, das assistentes sociais da secretaria de ação social, que não apareceram. Apenas um representante da secretaria de educação esteve presente e contribuiu bastante e deixou claro o apoio a causa.
 
Agora me pergunto. Por que nenhum candidato se posicionou perante estes questionamentos? Por que houve tanta ausência na reunião, posto que, foi enviado um número gigantesco de convites? Por que tanta rejeição?
 
Sei que é difícil explicar todas as razões somente num texto, pois se o fosse fazer, daria um livro cheio de teses, mas creio que alguns fatores supracitados devem ter sido colaboradores para tal acontecimento.
 
Quando recebi o convite para escrever sobre a realidade LGBTT de Icó, pensei em como fazer isso. E logo pensei em falar de como me sinto, ao passo que, pertenço a esta comunidade. E me sinto assim, isolado, solitário, mesmo no meio de muitos como eu. Daí me vem na cabeça o meu papel como cidadão e, acima de tudo, como educador, que é tornar as pessoas mais humanas, tirar o seu estigma de objeto e dar-lhes a oportunidade de subjetivação, de libertar-se das garras da subalternidade. Por isso convido a todos que lêem independente de seu papel que exerça dentro da sociedade para nos ver como somos de verdade, não como costumam dizer por ai. Conheça-nos, somos normais. Trabalhamos, estudamos, namoramos e vivemos juntos, conversamos, não somos pervertidos e nem malucos, descubra-nos e verão que somos mais normais do que possam imaginar. Na verdade, somos iguais a vocês."