"Um dos documentos que guardo com saudade e zelo é uma carteirinha do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, de 1978. Nela está a assinatura de próprio punho do seu então presidente, Carlos Castelo Branco, que fez a transição na entidade entre o peleguismo que tomou conta dela na ditadura e o peleguismo que retornou depois de um certo período. Quando deixei Brasília, em janeiro de 1985, o sindicato já não tinha o peso que teve com o Castelinho e com os que o sucederam, logo em seguida.
Recordando esse tempo bom, em que o Sindicato dos Jornalistas de Brasília era atuante, respeitável, acreditado, pelo peso do seu presidente, não vejo similares nas instituições atuais engajadas, que desunem mais do que unem os profissionais. E realmente não tem como comparar porque o Castelo, o maior colunista político do País, na época, assinando a Coluna do Castelo no Jornal do Brasil, não embarcava na onda dos jornalistas ativistas. Ele valia por um partido moral e não como um partido político, porque apesar de combater o regime militar pelo qual foi preso, não era um sectário.
Mas na presidência do Sindicato foi uma força que substituiu o marasmo, a acomodação, o comprometimento, o oportunismo por uma ação atuante, com credibilidade incomparável junto á classe, à sociedade e ao sistema de poder. No Planalto, no Congresso, no Ministério da Justiça, nos Ministérios Militares e até mesmo no governo do DF, deixaram de ser comuns as ameaças contra os setoristas que cobriam a área para suas empresas de comunicação. A simples sonegação de uma informação culminava com denúncias e cobranças do Sindicato. A Lei (de exceção) de Imprensa tinha a vigilância da entidade e do seu presidente. Mas agora, querem que ela volte.
Atualmente, aqui mesmo no Ceará, os repórteres assistem na Assembleia Legislativa a um deputado desequilibrado esbravejar contra uma empresa de comunicação, humilhando jornalistas, e não se vê reação nenhuma. Outra repórter recebe pedradas numa dessas coberturas da campanha eleitoral e não acontece nada. Não tem uma voz a nosso favor, senão às vezes a da própria empresa agredida. O presidente Lula, abusando das suas atribuições, insufla o descrédito aos jornalistas e anuncia que vai controlar a imprensa. A Fenaj e os sindicatos acolhem-se a silêncio tumular.
Faltam Carlos Castelo Branco no comando dessas representações jornalísticas esvaziadas pela falta de compromisso com a classe, com o jornalista cujo piso salarial, aqui no Ceará, é pouco menos ou igual ao soldo de um soldado da PM. Pela omissão de uns e a conivência de outros, é que o governo do PT quer venezuelizar a mídia brasileira. Querem que nós fiquemos falando, escrevendo e noticiando só o que o Lula e o PT quiserem."
Wanderley Pereira é jornalista da TV Jangadeiro