Quase 3.000 quilômetros de estrada, ou 2.954 km ou ainda 2.980 km. Depende do trajeto. Esta é a distância que muitos icoenses venceram para chegar em Curitiba, capital paranaense. É também a separação entre a vontade de trabalhar e o emprego.
Em matéria da Força Sindical e publicada no Portal Mundo Sindical a respeito do crescente mercado da construção civil no Paraná e dos trabalhadores nordestinos que percorrem o país em busca de emprego, o icoense segue o caminho das construções.
Três personagens icoenses são apresentados na matéria, representando uma legião de filhos da terra que encontram-se nos mais distantes recantos, à procura de emprego que não encontram na "Princesa dos Sertões".
Osnildo de Oliveira Roseno, 27 anos, deixou sua mulher em Icó, e foi atrás da oportunidade de atuar como carpinteiro no Sul, depois de ter trabalhado na mesma função em São Paulo. "Aqui é melhor. Tem menos correria", afirma. O desejo dele é de ficar pouco tempo, em agosto será pai. Ele hoje mora em um alojamento com outros 15 colegas.
Neste alojamento, encontramos outro icoense, José Vicente Leandro, 42 anos. Leandro planeja trazer a família, que deixou em São Paulo-SP, além de seus amigos. "Quem tem conhecido na região, vai chamar para vir para cá", garante. Ele trabalhava na construtora Gafisa há sete meses e agora está na construtora Plaenge.
O SUL - Antes era São Paulo, e ainda é, em parte. O crescimento das construções pelo Brasil espalha a mão-de-obra. E da capital paulista, muitos parte para o Sul, como os icoenses retratados.
O que acontece atualmente, conforme enumera a matéria, é que há um movimento de empresas e empreiteiros que vão até outros Estados atrás da mão de obra que falta no Sul. Alguns desses trabalhadores já deixaram o Nordeste anos antes e estão aceitando fazer uma nova mudança. Outros são buscados na origem.
E entra em cena o terceiro icoense na história, um dos responsáveis por contratar nordestinos para trabalhar no Paraná. Trata-se de Evandro Freitas, encarregado de obras de uma empresa em Campinas, a A.S. Serviços de Construção Civil, e que foi chamado pela construtora paranaense Plaenge para ajudar a erguer prédios em Curitiba.
"A gente já conhece o pessoal do Nordeste que tem experiência e vai buscar", explica. Ele saiu de Icó em 1986 e vive há seis meses na capital do Paraná. Já trouxe 16 pessoas de fora, número que planeja aumentar para 46 em dois meses.
FALTA GENTE - Prossegue a matéria que, segundo Fernando Fabian, diretor e um dos sócios da Plaenge, que tem sede em Londrina (PR), a empresa faturou R$ 1 bilhão no ano passado, e vai precisar de mais gente para atingir o objetivo de crescer 50% em 2011.
O empresário conta que o problema de falta de mão de obra é maior em duas cidades em que a empresa atua, Curitiba e Cuiabá (MT). Mas ainda não há o movimento de nordestinos para o Centro-Oeste.
A situação do apagão de mão-de-obra no Paraná não atinge somente a construção civil. A prefeitura de Curitiba tem organizado feiras em uma praça central da cidade para que as empresas divulguem suas vagas e disputem os que vão até o local interessados em emprego com carteira assinada.
Representantes das áreas de recursos humanos de supermercadistas estão sempre presentes. No interior do Estado, cooperativas têm recorrido à contratação de índios e presidiários em regime semiaberto para manter o quadro que precisam em seus frigoríficos de aves.
A Plaenge possui 1,6 mil empregados e, segundo Fabian, o número de terceirizados chega a quatro vezes isso. A construtora montou uma escola de construção e está começando a treinar a segunda turma de pedreiros. Também decidiu incentivar mulheres com a formação de azulejistas. Quer formar 400 trabalhadores até o fim do ano e distribui panfletos nas obras para encontrar os futuros alunos.
OS "PARAÍBA" E "CEARÁ" - A matéria ainda retrata que em dois dos 16 canteiros de obras mantidos pela Plaenge em Curitiba, os nordestinos atendem por dois nomes, Paraíba ou Ceará. É comum ouvir no local alguém dizer pra levar alguma coisa que "o Paraíba está precisando".
Outro nome bastante citado é "Ricardão", uma provocação para os que deixaram mulher em outro Estado. "No Ceará, chamamos de Zé da Bodega", comenta Antônio Nunes da Silva, 45 anos, que nasceu no Piauí e morou por 25 anos em São Paulo, onde ainda vivem a ex-mulher e dois filhos.
Finaliza a matéria que, tanto patrão como empregados dizem que o preço por metro quadrado de serviço executado é parecido no Paraná ou em São Paulo. Longe da família e vivendo em alojamento, os trabalhadores "importados" passam o maior tempo na obra e ficam em casa apenas no domingo.