Sala dos professores, hora do intervalo. Na sala de planejamento, vão entrando um a um os educadores, pastas e apagadores parecendo mais pesados que na realidade. Arrastam-se as cadeiras, ouvem-se murmúrios e suspiros cansados, vagas reclamações sobre calor, chuva e alunos, sempre os alunos como causa maior da insatisfação geral. O mau comportamento, a atitude provocante de eterno desafio, a arrogância adolescente a testar o mais paciente discípulo de Piaget... E entre um e outro desabafo, o milagre se dá: a porta da saleta de almoço se abre e o cheiro de café enche o ambiente. A voz do colega parece música celeste a avisar: “Gente, tem pão fresquinho!” Num instante esquecem as tristezas e lamúrias, correm feito crianças quando ouvem o sorveteiro. Cercam a pequena mesa e o humor de todos muda instantaneamente, esquecem as ‘malcriações’ dos estudantes, os baixos salários e a garganta irritada. O prazer primal da partilha do alimento, a reunião ao redor da mesa faz com que os instintos tribalescos aflorem e todos sentem a felicidade antecipada da fome saciada, a alegria puramente animal do paladar contemplado com o pãozinho crocante. O milenar ritual da alimentação faz tudo parecer melhor. As esperanças se renovam enquanto a garrafa de café é esvaziada e os risos se multiplicam enquanto o pote de margarina passa de mão em mão. O pão é, ainda, alimento e remédio, como já diziam as vovós...
# Currículo: Nilza Braga, professora de Inglês do Ensino Médio, formada em Letras pela Fac. de Ribeirão Pires (SP). Adotou Fortaleza como sua há 20 anos e trabalha na rede estadual de ensino. Vegetariana, espírita, apaixonada pela profissão, mantém em precário funcionamento o http://nilzasonapaz.blogspot.com/ mas é figura fácil no Orkut, Twitter, MySpace, Facebook e mais alguns, com o codinome "Nilza só na Paz".