O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) é certamente um antigo conhecido da imprensa. Estando atualmente na sexta legislatura (e esse fato é algo que deveria ser analisado com mais profundidade por especialistas e acadêmicos), o parlamentar se notabilizou por suas posturas assumidamente conservadoras e autoritárias. Até aqui "nada demais". Mas nesta semana, Bolsonaro foi além e o "óbvio ululante", como já falava Nelson Rodrigues, veio à tona.
Que Bolsonaro era preconceituoso e discriminador estava evidente, mas como ele ainda não havia extrapolado as barreiras do que nosso senso de respeito e civilidade considera aceitável, ninguém mexia com o deputado, tratado, nos programas aonde ia, apenas como uma piada, um ser exótico, de opiniões retrógradas, um "maluco-beleza" até então inofensivo.
Na última segunda-feira (28), Bolsonaro foi convidado a participar do programa CQC, da TV Bandeirantes, em um quadro no qual várias pessoas fazem perguntas curiosas e bem humoradas ao entrevistado. Não contente em ser uma piada (sem a mínima graça, diga-se de passagem), o excêntrico deputado deixou transparecer sua índole mais peçonhenta, exteriorizada na forma de racismo.
Indagado pela cantora Preta Gil sobre qual seria sua reação se um de seus filhos se apaixonasse por uma negra, Bolsonaro saiu-se com esta: "Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu".
Agora sim, o que era óbvio se materializou e virou mote para o moralismo e a revolta de outros deputados, em nome da ética e do decoro, tão ausentes em outras questões cotidianas. O caso passou a ser analisado pela corregedoria da Câmara e 20 deputados já pedem a cassação de Bolsonaro.
Este não é o primeiro caso de grande repercussão levantado pelo referido programa da Band. O que chama também a atenção é como um programa classificado como humorístico consegue muitas vezes fazer questões tão polêmicas e de tamanho interesse para a Nação ecoarem Brasil a fora. Talvez é hora de vermos o humor como algo não apenas para fazer rir, mas também para fazer refletir, pois muitas vezes o humor tem a coragem e o desprendimento que falta à imprensa dita jornalística, que muitas vezes confunde a ética com a omissão, se enclausurando em si mesma e fingindo não ver aquilo que clama por atenção.
# Currículo: Marcos Robério: estudante de Jornalismo. Foi coordenador do Núcleo de Jornalismo da ONG TV JANELA; depois trabalhou na assessoria de imprensa da Prefeitura de Fortaleza (estagiário da Secretaria Executiva Regional VI). Atualmente, é repórter estagiário do Jornal O POVO, onde escreve no caderno Vida e Arte. Contatos: email - marcosroberio88@gmail.com e twitter - @marcos_roberio