Há cerca de 20 anos, a imprensa sudestina tratou de ridicularizar e execrar uma viagem de Paes de Andrade, que ocupava a presidência interina do País, a Mombaça, sua terra natal no semiárido cearense. Paes presidia a Câmara dos Deputados e estava na presidência em função de uma viagem internacional do titular, José Sarney. A atitude do deputado ficou marcada como uma referência folclórica do atraso político. É evidente que a cobertura estava eivada do ranço sudestino no que diz respeito a praticamente tudo que venha, digamos, do ``norte``. É o mesmo comportamento que, com suas variações, explica a fala do senador Aloízio Mercadante (PT-SP). Em recente declaração, o paulistano comentou que Ciro Gomes (PSB-SP) pegou o pau de arara ``errado`` quando veio de São Paulo para cá. Agora, compara-se o caso de Paes ao de Domingos Filho (PMDB), que, no exercício interino da função de governador, foi a Tauá, sua terra natal, para assinar uma simples ordem de serviço para construção de uma escola de ensino médio. Há um mal no comportamento? Há um problema ético? O caso vale uma reflexão. Muitas vezes nos sujeitamos inconscientemente ao ponto de vista sudestino. Notem que jamais houve uma crítica a FHC quando inaugurava algo em São Paulo. Itamar foi a Juiz de Fora (MG) dezenas de vezes. Lula vai frequentemente a Pernambuco e participa de muitos atos e solenidades em São Bernardo do Campo. Michel Temer já assumiu interinamente a Presidência, quando fez viagem de trabalho a São Paulo.