domingo, 2 de dezembro de 2012

Um dos males do Icó, por Marcos Barreto

"O Dnocs está presente em toda a região, é a verdadeira universidade do semiárido", diz. [Eudoro Santana é ex-diretor geral do Dnocs, mandato exercido no primeiro governo Lula]
 
"Segundo Eudoro, o grande problema do DNOCS é sua imagem perante a administração federal como órgão onde "reina a politicagem".

Um dos grandes problemas das nossas cidades, mais especificamente o Icó, é que hoje somos vítimas dessa inoperância. Foram desapropriados em torno do Icó, 10.000ha de terras para implantação de um perímetro irrigado, dos quais foram irrigados em torno de 1500ha. Criou-se um cinturão de terras do DNOCS em torno da cidade, limitando então o seu crescimento natural. Em 1992, o DNOCS, já vítima desse esvaziamento, repassa para os colonos a gestão do perímetro irrigado por não ter mais condições de gerir o rebento. Ora, se o governo federal não podia, os colonos sozinhos poderiam? Doaram-se alguns implementos agrícolas, estimularam o endividamento junto aos bancos, mas a manutenção e recuperação da estrutura fisica até hoje é aguardada.
 
Temos hoje um perímetro dividido em alguns conjuntos que recebem água por gravidade e outros(Pedrinhas, GH1, GH2, NH 1,2,3, KL, M) que há quase duas décadas não recebem uma gota de água. Primeiro, o DNOCS deixou de custear o valor da energia em nome de uma agricultura ou economia de mercado. Plantar arroz, gasta-se muita água, muita energia elétrica, portanto, é inviável. Como os colonos não conseguiam pagar a conta da energia elétrica, deixou-se de irrigar, os canais deixaram de receber manutenção e pela ação do tempo foram destruídos. Assim, o perímetro irrigado Icó-Lima Campos, ficou abandonado a sua sorte. Lembro que numa época, o Governo do Estado, instalou energia elétrica em todos os lotes, distribuiu kit de irrigação voltados para a fruticultura, mas novamente os colonos ficaram a ver navios, pois não tinham como ir aos bancos buscar financiamento para custear a produção, pois as terras, os lotes, não tinham escrituras (piada, né?) e os bancos não tinham como fazer o empréstimo. Quanto ao problema da inadimplência dos colonos, foi sugerida uma "solução", tirar o custeio em nome de alguém da família. Terminou não dando certo no final. Atualmente, não tem um lote com a rede elétrica ligada, quando não, já foi roubada, os kits de irrigação, uma boa parte foram levados numa cheia do Rio Salgado, pois o dique de proteção não tinha sido restaurado.

Então, o município de Icó padece, vítima dessa inoperância do DNOCS. Temos toda a água do açude do Orós a nossa disposição, mas sem utilização por boa parte do perímetro. Lembrando que há anos há uma peleja para a reinstalação das bombas, depois falou numa "inviabilidade" e que seria construído um novo canal por gravidade, depois os estudos mostraram que era muito "caro" e acho que estão esperando São Pedro irrigar as terras do nosso perímetro.

O Icó padece e carece que o governo federal, através do DNOCS, atue de forma firme e faça os investimentos para recuperar o nosso perímetro irrigado. Que mude a prática, porque parece que nesses últimos 20 anos, foi enganar até que os colonos se aposentarem para ter um meio de sobrevivência."
 
# O autor desse texto é o Dr. Marcos Barreto (foto), fisioterapêuta em Icó (CE).