segunda-feira, 30 de abril de 2012

"Tiradas do Baú"

 
A baixa estatura nunca impediu que ele se impusesse. Vestido de terno e gravata ou normal era notório a sua vaidade. O olhar sempre foi forte e a fisionomia séria. O homem, inicialmente, sisudo encarnava o personagem político. Caracaterísticas inerentes a um "homem do povo" parecem estar permeadas a personalidade de Aldo Marcozzi Monteiro, ex-prefeito de Icó entre 1983 e 1988. Tinha fala ligeira, correta e ritmada. Sempre teve o dom da palavra. Suas respostas eram bem elaboradas e parecia em um permanente discurso. 

O homem se colocava, inicialmente, como em um palanque com uma postura séria. A posição era mantida, mas por pouco tempo. O humano é mais forte, não se deixa conter. Para emoção, por vezes, não há meios para controlar. O personagem político tenta conter o humano, mas não consegue. Aldo sempre foi humano, apesar de algumas restrições por parte da população quanto a ele. O politico, o prefeito, o "homem do povo" é apenas uma das facetas dessa figura que por vezes parecia menino e que hoje não estar mais entre nós. 

Sempre foi criticado por alguns por sempre andar de carro com os vidros fumê fechados. Não gostava de olhar no olho e parecia estar em uma armadura, que muitas vezes, a política impõe, agora encara. 

Até hoje é lembrado como o melhor prefeito que o Icó já teve. Ao término de seu mandato, preferiu não indicar nenhum candidato oficial, deixando os postulantes a vontade. Resultado: o seu sucessor no comando da Prefeitura Municipal foi Oriel Guimarães Nunes, que venceu a eleição diante de icoenses como o médico Quilon Peixoto Farias (PSD), que tentava novamente voltar ao Palácio da Alforria. 

Pai, filho, marido, político, Aldo se desdobrava para cumprir os papéis que ele escolheu para desempenhar, à época. Detalhe: foi casado duas vezes. No primeiro casamento, teve ao seu lado a brilhante Tereza Evangelista, a primeira-dama que todos os icoenses lembram com carinho e afeto. Depois casou-se com a educadora Josina Monteiro, que foi bastante hostilizada durante uma dessas disputas em que o político participou, sendo inclusive chamada pelos adversários de "Jacutinga", numa referência a um dos personagens de uma dessas novelas exibidas pela Rede Globo.

Vale lembrar aqui, que a religião é o que o pautou sempre. É nela que ele buscava os valores éticos do homem politico que sempre foi. Foi um advogado brilhante e tinha no decano Rossini Farias Camelo o seu grande mestre na área jurídica. 

Foi também secretário de Educação e presidente da Associação dos Prefeitos e Municípios do Estado do Ceará (Aprece). Disputou a Prefeitura Municipal de Icó em mais dois momentos: em 1992 contra Quilon Peixoto Farias e Lourival Augusto (Caboquinho-in memorian), como também, em 1996, contra o ex-prefeito e atual deputado estadual Neto Nunes (PMDB), sendo derrotado nas duas vezes. Disputou ainda o mandato de deputado estadual, não obtendo êxito.

Até hoje ninguém sabe o motivo de suas inúmeras derrotas após o período como prefeito municipal. Fez um excelente governo, mas posteriormente não logrou êxito em duas tentativas visando voltar ao Palácio da Alforria, onde além dele, o seu pai José Walfrido Sobrinho (três vezes) e o seu irmão José Walfrido Monteiro, também já tinham exercido o cargo maior do município.

Desacreditado da política, Aldo Monteiro, cidadão e político, seguiu fazendo aquilo que acreditava ser política. Como ser humano, personagem, homem e como político ele sempre foi complexo. Dizem que ao fim de seu mandato como prefeito afirmou o seguinte: "Saio desta terra e nunca mais voltarei aqui", manchando a sua imagem e se desgastando como figura pública. "Comeu no prato e depois quis consertar o erro", disse para o Blog um icoense apaixonado por sua terra.

Deixou uma marca em Icó, é bem verdade e disso não podemos contestar jamais. Sempre foi um homem de posicionamentos firmes. Como vereador, foi fiscalizador aos extrenos. Enfim, a personalidade não o deixava ser daquelas figuras que se acomodavam diante do que não concordava, do que não acreditava, do que não achava certo.

Deixou quatro filhos. Maria Tereza, a primogênita; Aldinho (hoje ator e teatrólogo); Carolina (foi colega desse blogueiro nos tempos da extinta Escola Recanto da Criança) e Rebeca (de seu segundo casamento e amiga de "baladas" de nossa irmã Natacha Xavier aqui em Fortaleza).

Esta é a história de um advogado por vocação. Mas é o mesmo homem que viu na política um meio para tentar curar todos os males.

Nascido em 03 de fevereiro de 1938 e falecido em 03 de maio de 2009. Portanto, já se foram três anos sem o icoense Aldo Marcozzi Monteiro. Nesse sentido, na semana em que completa três anos de morte, o "Tiradas do Baú" faz esta justa homenagem a um dos personagens mais importantes e emblemáticos da história recente de Icó.