quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Deputados põem em xeque formação policial


O crime aconteceu na madrugada de sábado, 05. Porém, ainda está engasgado no Parlamento. E engasgado por ter como protagonista justamente um agente de Segurança Pública do Estado. Sargento da Polícia Militar, Francisco Antônio Lima Amorim (33) foi encontrado morto ao lado da mulher, a jornalista Kérsia Porto (29), que, desde 2006, compunha os quadros da TV Assembleia como repórter. Ela foi alvejada por sete tiros de pistola ponto 40; ele com apenas um: na boca. Suspeita-se de crime passional: homicídio seguido de suicídio. Os corpos foram encontrados na porta do condomínio onde o casal morava, no Montese.
Ontem, deputados de oposição e situação usaram o episódio para questionarem a formação dos policiais cearenses. As ponderações foram feitas em relação às instruções de equilíbrio emocional para situações de tensão oferecidas no chamado curso preparatório. Amorim era fiscal do Programa Ronda do Quarteirão. Heitor Férrer (PDT) referiu-se especialmente ao fato do sargento estar com a arma da corporação, mesmo fora do expediente. Por lei, ele deveria deixar a pistola na sede onde é lotado. “Como a lei determina que se deixe no quartel, tinha de ser cumprido”, cobrou.
O pedetista chegou a dizer que Amorim sofria de psicopatia, pois cercava Kérsia de cuidados excessivos e monitorava os passos da jornalista. Com isso, lançou mais críticas à postura do sargento. “A Polícia deve ter um preparo psicológico para conduzir arma de fogo. A Kérsia sofreu por ter identificado que quem estava levando a vida dela para a sepultura era um homem para quem ela tinha dedicado todo amor. É como se ele quisesse arrancar uma confissão que ela não tinha como dar. O ciúme é uma doença. Os sonhos todos dela foram enterrados no domingo”, lamentou.
ACOMPANHAMENTO

De pronto, as colocações foram endossadas por Artur Bruno (PT), que defendeu a criação de um programa de acompanhamento psicológico permanente dos PMs. “É injustificável aquele crime violento”, bradou.
Em tese, o serviço já deveria ser oferecido no Hospital da Polícia Militar, inclusive para os profissionais dependentes químicos. Contudo, encontra-se comprometido, porque a unidade está sucateada. E quem admite é a própria base governista. “Nessa condição [de drogaditos], temos policiais fardados e nas ruas. Só agora o governador está mandando melhorar [o Hospital]. Mas ainda falta reforma e contratação de psiquiatras e psicólogos para submeter todos a check ups periódicos”, denunciou Edson Silva (PSB).
MINIMIZANDO

Porém, lideranças dos aliados amorteceram os reclames. A começar por Welington Landim (PSB), que pediu cautela na análise do caso Kérsia Porto como referencial para críticas ao sistema de segurança pública. À frente do bloco PT-PSB-PMDB, o deputado disse que perfis como o do sargento Amorim “estão na sociedade como um todo”. Para Landim, o motivo do crime foi o ciúme excessivo e não uma falha na formação do policial, que, há poucos meses era cabo e fora promovido. “É como se o cidadão estivesse numa barreira e chegasse a um limite que nem ele mesmo consegue detectar o momento. Só quem convive ou tem história pregressa pode observar esses crises, que, às vezes, são impulsivas e levam a esse estágio final”, diagnosticou.
O mesmo fez o líder do Governo na Casa, Nelson Martins (PT). Procurado pela imprensa, o parlamentar disse não querer politizar o debate. “Não é o melhor exemplo [o caso Kérsia para indagar a formação dos policiais]. Aquele cara era um psicopata. Se não fosse a arma da corporação, seria de outra forma”, argumentou, dizendo-se triste pela morte da jornalista. Nelson até admitiu a pressão a qual os PMs são submetidos diariamente. No entanto, assegurou a existência de equipamentos de Estado para dar assistência psicológica a casos como este.