quinta-feira, 14 de abril de 2011

Artigo - Tema de Hoje (Jornalismo)

Denúncias apontam suposta ligação entre Daniel Dantas e FHC

Por Marcos Robério (foto)

Recentemente escrevi artigo em que criticava a postura da revista Veja, que havia omitido por alguns meses uma reveladora matéria contendo entrevista com o ex- governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Na oportunidade citei o desserviço à Nação prestado pela revista, dizendo ainda que interesses fora do universo jornalístico e editorial haviam guiado a direção de Veja no referido fato.

No mesmo artigo, eu já citava que minha posição não era generalizada em relação às revistas de grande circulação, nem mesmo em relação à própria Veja, que vez por outra traz à tona, em reportagens bem produzidas, fatos capazes de reverberar em variadas esferas do poder, construindo a própria história nacional.

Pois bem, me sinto agora no dever de citar um bom exemplo da revista Época, que muitos afirmam ter linha editorial e interesses muito semelhantes a Veja. Inclusive concordo com a ideia. A opinião geral é de que as duas são de caráter conservador, direitista e atreladas aos interesses da atual oposição no Brasil. Entretanto, a postura adotada por Época no caso a que me refiro é bem diferente daquela adotada por Veja no episódio envolvendo a entrevista de Arruda.

Nesta semana, uma matéria ocupando oito páginas de Época apresenta investigações da Polícia Federal que revelam uma suposta ligação não muito idônea entre o banqueiro Daniel Dantas e o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, são mostrados emails comprometedores datados do ano de 2002. A relação entre os dois era intermediada pelo paulista Roberto Amaral, homem de confiança de Dantas. O esquema de tráfico de influência, motivados por interesses empresariais de Dantas, ocorria da seguinte forma: Daniel Dantas, através de seu grupo Opportunity, tinha intenção em investir e controlar boa parte do setor de telecomunicações, recém-privatizado por FHC. Sua disputa era com um grupo de investimentos canadense. Por isso, Dantas precisava de alguém com bastante influência junto ao governo, para que seus interesses fossem atendidos sem complicações. Esse alguém era Roberto Amaral, que durante 30 anos foi executivo de uma empreiteira e desfrutava de livre tráfego junto ao Planalto àquela época.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) era a responsável por conduzir o negócio. Haveria então uma troca na procuradoria-geral do órgão e o convidado era André Leal Faoro, que anos atrás havia trabalhado como advogado para o grupo de canadenses, que agora disputava com Dantas o controle das telecomunicações no País. Ou seja, o histórico de Faoro representava um perigo aos interesses de Dantas. Por isso ele acionou Roberto Amaral para usar de sua influência e impedir a troca no comando da Anatel. Os emails com os pedidos de intervenção enviados por Amaral eram direcionados aos ajudantes de ordem diretos de FHC (espécies de braços direitos do presidente, trabalhando ao lado dele diariamente). Os emails se referem à “pessoa”. O material está desde 2009 sob a análise do procurador-geral da república, Roberto Gurgel, que estuda se eles contêm indícios que justifiquem a abertura de uma investigação policial.

Não pretendo aqui fazer comparações entre as revistas Época e Veja, mesmo porque Época também dá lá suas “barrigadas” de vez em quando. Mas apenas ilustro, através de episódios recentes, exemplos de bom jornalismo e de jornalismo questionável.

# Currículo: Marcos Robério: estudante de Jornalismo. Foi coordenador do Núcleo de Jornalismo da ONG TV JANELA; depois trabalhou na assessoria de imprensa da Prefeitura de Fortaleza (estagiário da Secretaria Executiva Regional VI). Atualmente, é repórter estagiário do Jornal O POVO, onde escreve no caderno Vida e Arte. Contatos: email - marcosroberio88@gmail.com e twitter - @marcos_roberio