Recentemente, depois de quinze anos, resolvi reler “Diário de Anne Frank”. Como toda releitura, percebi aspectos e elementos antes ignorados. Chamou-me a atenção, por exemplo, o fato de Anne desejar ser jornalista. Para ela, esse profissional reunia duas práticas que, no ‘Anexo Secreto’, eram as suas favoritas: ler e escrever. Sociologia, história – inclusive do Brasil -, ficção e álgebra eram alguns dos assuntos sobre os quais a pequena judia se debruçou entre os anos de 1942 e 1944 na Holanda ocupada por nazistas. Por esses e outros motivos, posso deduzir que Anne Frank teria sido uma excelente jornalista.
É clichê afirmar que a formação de bons profissionais passa, inevitavelmente, pela prática da leitura e da escrita, especialmente jornalistas que têm a palavra (escrita ou falada) como ferramenta principal. No entanto, é cada vez mais comum encontrar profissionais e estudantes avessos à leitura e, consequentemente, com deficiências significativas na escrita. Outro dia, durante uma conversa com uma profissional e com um estudante de comunicação, angustiados por estarem desempregados, perguntei quantos livros eles tinham lido naquele semestre. Nenhum, foi a resposta de ambos.
Penso que outro equívoco cometido por nós, profissionais da comunicação, é a falta de diversidade na leitura. Dizemos que os textos jornalísticos estão engessados, chatos e desinteressantes, mas uma escrita criativa, inteligente e atraente nasce, necessariamente, da leitura dos mais diferentes gêneros. Quando foi a ultima vez que lemos poesia, por exemplo? Ou, o contrário, quando nos arriscamos a ler um bom livro de comunicação?
Reler “Diário de Anne Frank” quinze anos mais velho e com outras vivências, me fez pensar, dentre outras coisas, na qualidade da minha leitura e no tipo de profissional que quero ser.