terça-feira, 17 de julho de 2012

"O que jornalistas podem aprender com Diário de Anne Frank", por Tiago Fernandes


Recentemente, depois de quinze anos, resolvi reler “Diário de Anne Frank”. Como toda releitura, percebi aspectos e elementos antes ignorados. Chamou-me a atenção, por exemplo, o fato de Anne desejar ser jornalista. Para ela, esse profissional reunia duas práticas que, no ‘Anexo Secreto’, eram as suas favoritas: ler e escrever. Sociologia, história – inclusive do Brasil -, ficção e álgebra eram alguns dos assuntos sobre os quais a pequena judia se debruçou entre os anos de 1942 e 1944 na Holanda ocupada por nazistas. Por esses e outros motivos, posso deduzir que Anne Frank teria sido uma excelente jornalista.

É clichê afirmar que a formação de bons profissionais passa, inevitavelmente, pela prática da leitura e da escrita, especialmente jornalistas que têm a palavra (escrita ou falada) como ferramenta principal.  No entanto, é cada vez mais comum encontrar profissionais e estudantes avessos à leitura e, consequentemente, com deficiências significativas na escrita. Outro dia, durante uma conversa com uma profissional e com um estudante de comunicação, angustiados por estarem desempregados, perguntei quantos livros eles tinham lido naquele semestre. Nenhum, foi a resposta de ambos.

Penso que outro equívoco cometido por nós, profissionais da comunicação, é a falta de diversidade na leitura. Dizemos que os textos jornalísticos estão engessados, chatos e desinteressantes, mas uma escrita criativa, inteligente e atraente nasce, necessariamente, da leitura dos mais diferentes gêneros.  Quando foi a ultima vez que lemos poesia, por exemplo? Ou, o contrário, quando nos arriscamos a ler um bom livro de comunicação?

Reler “Diário de Anne Frank” quinze anos mais velho e com outras vivências, me fez pensar, dentre outras coisas, na qualidade da minha leitura e no tipo de profissional que quero ser.