Sobral e Juazeiro do Norte são as cidades do Ceará com maior Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência, ocupando a 37ª e a 39ª posições, respectivamente. Fortaleza aparece apenas em 68º lugar, mas quando são consideradas apenas as capitais, sobe para 11º. O estudo inédito realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Ministério da Justiça, analisou os 266 municípios com mais de 100 mil habitantes no Brasil. Foram analisados o número de homicídios, mortes no trânsito e questões sociais como educação e emprego. ``O estudo observou os níveis de exposição dos jovens à violência, a permanência na escola, a forma de inserção no mercado de trabalho e o contexto socioeconômico dos municípios``, destaca Inácio Cano, do Laboratório de Análises da Violência do Rio de Janeiro. Também apareceram na pesquisa as cidades de Caucaia, Itapipoca, Maranguape, Crato e Maracanaú, todas com vulnerabilidade média. De acordo com Inácio Cano, esse índice é menor nas capitais por causa dos indicadores socioeconômicos. ``As regiões Norte e Nordeste se saíram pior por causa disso. São Paulo, por exemplo, está em 192º lugar. Além de ter uma situação mais confortável socioeconomicamente falando, o número de homicídios diminuiu``. Para Leonardo Sá, pesquisador do Laboratório dos Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), existe um processo de favelização no interior do Estado. ``São as chamadas favelas rurais que estão surgindo. Sobral e Juazeiro já tem população em situação de favelização. Isso, de certa maneira, faz com que a violência no Interior exploda``. A desigualdade e a concentração de renda, segundo ele, também contribuem para o alto Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência no Interior. ``Os indicadores precisam ser lidos dentro dessa dinâmica de exclusão, principalmente dos jovens da periferia. Tanto da metrópole, como o Interior. De certa forma, a ausência de investimento público nos jovens provoca uma situação de exclusão tanto socioeconômica, como na questão dos direitos``. Conforme Leonardo, as políticas de segurança que o Estado vem promovendo não têm uma visão preventiva e participativa. ``Estão sempre investindo em aparatos tecnológicos, que não resolvem o problema por si só``. Segundo Inácio Cano, o estudo é para analisar as condições de vida da população jovem dos municípios e dar instrumentos aos gestores de políticas de prevenção para aumentar a eficiência das ações para os jovens.
E-MAIS
SOBRE A PESQUISA
Outro objetivo do estudo é gerar insumos para o planejamento e gestão do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), além de fortalecer a capacidade do programa de intervenção social e mudança da realidade.
Na avaliação do ministro da Justiça, Tarso Genro, os dados reforçam a importância do município na prevenção à violência. ``A pesquisa demonstra que o caminho que traçamos e construímos para implantar o Pronasci está no rumo certo``. O Pronasci está em 21 estados, no Distrito Federal e em 109 municípios.
O número de óbitos por homicídios e por acidentes de trânsito entre jovens e adolescentes de 12 a 29 anos foi utilizado para expressar a incidência dos efeitos negativos da violência urbana entre esse segmento populacional.
Para as questões relativas à escolaridade e emprego, foram calculados indicadores que expressassem a parcela de jovens que não frequentam escola e aqueles que se inserem de forma precária no mercado de trabalho.
Para contextualizar as condições sociais e econômicas existentes no município, utilizaram-se variáveis relativas aos níveis de renda e escolaridade da população ali residente, bem como suas condições de moradia, expressas pela existência de assentamentos precários.
Em Fortaleza, 56% dos jovens entrevistados tem renda menor que R$ 930 e 44% tem apenas o ensino fundamental completo. Do total, 45% já viu o corpo de alguém que foi assassinado e 15% já viu alguém sendo morto por arma de fogo.