O secretário de Segurança Pública do Ceará, Roberto Monteiro, admitiu que há tratamento desigual em relação a duas denúncias de tortura envolvendo delegados no Estado: a primeira, feita presos que denunciam ter sofrido agressões por parte dos delegados Francisco Cavalcante e Alexandra Medeiros, e a segunda, de sequestradores que responsabilizam o superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos Dantas. Em entrevista ao repórter Márcio Dornelles, do portal Ceará Agora, no último fim de semana, em Parambu, a 390 quilômetros de Fortaleza, durante a inauguração de uma delegacia, Monteiro disse que houve abertura de inquérito policial e de sindicância para apurar as duas denúncias. ``A única diferença de tratamento é que não houve o afastamento do doutor Dantas, porque foi um entendimento em uma conversa com o governador. Nós achamos que aprofundaria a crise se a gente o afastasse``, ressaltou o secretário, de acordo com a gravação obtida pelo O POVO, ontem à noite. A conversa com o governador em que se decidiu preservar o cargo do superintendente, segundo o secretário, ocorreu na segunda semana deste mês, no Palácio Iracema. ``Evidentemente que, para tratar um tema desta natureza, eu teria que consultar o governador. Até porque foi o governador quem nomeou o doutor Dantas. Quando cheguei aqui, já havia a escolha do doutor Dantas como superintendente. Eu não podia tomar uma decisão dessa natureza, um cargo máximo de uma vinculada, sem consultar o governador``, afirmou Monteiro. O afastamento dos delegados Francisco Cavalcante e Alexandra Medeiros teve como base o Estatuto da Polícia Civil, que considera transgressão grave toda e qualquer suspeita de envolvimento em tráfico de drogas, revelação dolosa de segredo de que tenha conhecimento em razão de cargo ou função, prática de tortura ou crimes definidos como hediondos, exigência, solicitação ou recebimento de vantagens indevidas.
``Nada de crise``
Na mesma semana em que teve um ``entendimento`` com o secretário Roberto Monteiro sobre Dantas, o governador negou a existência de qualquer crise na Polícia Civil. ``Não tem nada de crise na Segurança. Isso não é crise. O que tem, e sempre teve, é que tem uma parcela que é séria e outra que é desonesta. Todo mundo sabe disso``, disse Cid.