terça-feira, 14 de agosto de 2012

Por Fábio Campos - "A diferença entre notícia e propaganda"

Estamos a exatos dois meses do dia da eleição. A campanha eleitoral acaba de completar um mês de sua primeira fase. É o período anterior ao palanque eletrônico (rádio e televisão), que começa em 21 de agosto. No total, serão três meses de campanha aberta.

No Brasil, as campanhas eleitorais são obrigadas a seguir um rígido roteiro legal. Há leis e regras para tudo. Até para o posicionamento de partidos e candidatos em redes sociais de internet.

Felizmente, a nossa democracia percebeu a importância do jornalismo impresso. Esse sim, está livre para abordar e confrontar os candidatos, suas contradições, seus discursos, suas histórias de vidas, suas andanças, suas estruturas de campanha, seus financiadores legais e ilegais.

Como melhor exemplo local, o noticiário político do O POVO. A cobertura não se limita às agendas dos candidatos e muito menos à agenda oficial estipulada pela rigidez da legislação. Ela perpassa as etapas da campanha. Melhor: muitos meses antes, a cobertura cotidiana antecipa os contornos de um cenário que se concretizará ao longo da disputa oficial.

Livre do oficialismo e apegado aos rigores do jornalismo, a cobertura impressa é, ao mesmo tempo, um animador do processo e um termômetro da campanha eleitoral. É evidente que essa liberdade acaba desagradando aos que estão de forma direta envolvidos nas campanhas pela conquista do poder.

Fato: a cobertura impressa só é boa (para os leitores e eleitores) quando desagrada a gregos e troianos, democratas e republicanos, liberais e conservadores, sicranos e beltranos.

Lembro-me da disputa estadual de 2006. Em um dia, ouvi reclamações do então candidato ao Governo, que saiu vencedor, Cid Gomes. “O jornal só publica fotos ruins minhas e boas do outro candidato”. Exatamente no dia seguinte, Lúcio Alcântara fez a mesmíssima reclamação em sentido contrário.

É claro: a correta cobertura jornalística não se abriga na agenda dos candidatos e, portanto, desagrada a uns e outros. A relação entre o poder político e o jornalismo é naturalmente conflituosa. Não sendo, há algo de errado com a... cobertura, que certamente deixou de ser jornalística.

Lula, um sábio do pensamento popular, já disse uma vez: “Notícia é aquilo que a gente não quer que seja publicado. O resto é propaganda”. Bem antes, o inglês George Orwell, o escritor de clássicos que denunciaram o totalitarismo, dizia que jornalismo é a arte de “publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”.

A propaganda eleitoral no palanque eletrônico, o principal mecanismo de massificação das campanhas, não passa de publicidade. É uma propaganda que, muitas vezes, não tem a menor preocupação com a realidade, com a história e, pior, com a verdade.

Por essas e por outras que o jornalismo é tão necessário. Mais ainda numa campanha eleitoral. O jornalismo desmascara, escancara, confronta, denuncia e expõe.

Não é à toa a forte influência do jornalismo na vida da política e dos políticos. Atentem para o seguinte: sempre que um candidato quer defender uma tese ou atacar um rival na propaganda da TV lança mão de recortes de jornais. É quando a propaganda eleitoral costuma ser mais honesta.

# Fonte: Jornal O Povo, em sua coluna publicada no dia 09 de agosto de 2012.