Por Paulo Rogério - ombudsman do O Povo
“Se alguém vai ler um texto e não conhece sete, oito ou dez palavras acaba se distraindo e não consegue entender o sentido geral daquela mensagem” Vito Gianotti, escritor e autor do livro Dicionário de Politiquês.
Caro leitor, você sabe bem o real significado de expressões como relator, comissão mista, substitutivo, cacique-mor, impugnação, candidatura rifada ou candidato ungido? As expressões fazem parte do cotidiano do noticiário de Política e vez por outra são publicadas como se todos fossem obrigados a saber o que querem dizer. Ora, cabe ao bom jornalismo escrever de forma clara para o leitor, partindo sempre do princípio que aquele pode ser o primeiro contato da pessoa com o tema. Insistir em uma linguagem recheada de termos políticos, gírias e chavões - o chamado “politiquês” - é dificultar a comunicação, espantar o leitor. O texto vai acabar interessando somente a um pequeno grupo. O recado serve também para o “economês”, o “futebolês”, ou outros dialetos próprios. O leitor Gisonaldo Grangeiro discordou, por exemplo, do uso rotineiro do termo “candidatura rifada” para explicar a saída de Ciro Gomes da disputa presidencial. “Rifada foi a candidatura Lúcio Alcântara, em 2006. Aquilo sim foi rifar um candidato natural à reeleição” afirmou, defendendo a tese que a saída de Ciro foi uma decisão do partido. De acordo com o editor-executvo do Núcleo de Conjuntura, Guálter George, o termo “rifada” se refere à articulação que o candidato fez e teve seu projeto inviabilizado pelo próprio partido. “Poderia dizer “inviabilizada”, por exemplo, ao invés de rifada? Poderia, claro, sem que isso signifique, necessariamente, que houve um erro na opção feita” afirmou ele. Se poderia, deveria ter usado. O leigo desconhece a expressão “rifada”, a não ser para uma bicicleta, um carro, uma grade de cerveja e um galeto, etc. O mesmo caso aconteceu na edição de dia 1º de julho quando O POVO escreveu que o “deputado federal de primeiro mandato, Indio da Costa, foi ungido candidato...”. Ungido? Guálter concorda que alguns termos dificultam realmente a compreensão. “Razão pela qual temos, nas reuniões internas da editoria, sempre solicitado que a opção seja pela simplificação. Sem gírias” assegurou.
* Fonte: Trecho da coluna do ombudsman do Jornal O Povo da edição de hoje, 25 (domingo).